OS
DISPOSITIVOS DE CUIDADO EM ÁLCOOL E DROGAS EM SALVADOR.
Antonio Nery
Filho, mestre em Medicina pela UFBA, doutor em Sociologie et Sciences
Sociales.
Não concordei, àquela época, como
agora, com a exposição a que foram submetidos os usuários de drogas em
recuperação, por uma questão de principio: o anonimato é um dos pilares da
clínica ensinada, desde os primórdios dos anos 70, pelo Prof. Claude Olievenstein
(de Marmottan , Paris), associado à gratuidade e à liberdade pela escolha
de tratamento, isto é, a busca voluntária de ajuda, ressalvadas as
situações em que a morte é iminente, morte para si ou grave ameaça
para os circunstantes. A autonomia do paciente é, a meu juízo, raramente negociável.
Em lugar de lamentar o
fracasso das gerações anteriores, escolheu, claramente, os jovens, que
denominou de “nosso futuro”, para depositar a responsabilidade pelas urgentes
mudanças nos paradigmas sociais atuais: menor valor para os bens materiais,
transitórios, passageiros, e maior interesse e garantia pelos valores éticos e
morais. Como não abraçar as propostas deste Homem que poderia apenas
dizer aquilo que os poderosos de passagem gostariam de ouvir? Como não
reconhecer neste Francisco do século XXI, a firme disposição de se fazer ouvir
do alto de sua simplicidade e sorriso cativantes?
Creio, firmemente, que
Francisco, o Papa, não considera os usuários de drogas, em particular as
ilícitas, como os doentes leprosos do século XXI. Ouso pensar que os vê como
grave sintoma de uma sociedade do
espetáculo, de Guy Debord, do transitório, da falta de memória, do ter e
do consumismo sem quartel, da mentira e do engano. Mas, creio que Francisco crê
na esperança, como no Mito de Pandora. Quanto a mim, creio em Francisco
enquanto esperança de transformação, como ainda creio no trabalho e na poesia.
Comentário:
Sr.Gerfson,
conheço como ex dependente, ou talvez temporariamente livre das seqüelas desta
droga devastadora, às carências não intencionais dos profissionais que lá
trabalham (CAPS), mas do próprio sistema que encampa suas metodologias na
provável recuperação de danos dos adictos do álcool e outras substâncias
psicoativas. Assim sendo, posso e devo alertar que o modelo ideal nesta “recuperação”
está longe dos ideais de reinserção e amenização das doenças da mente. Psicoterapias,
farmacoterapia, oficinas são de grande valia se a ciência adicionasse o
componente mágico, alquimista, quântico na libertação que, nossos irmãos
enfrentam no seu dia a dia. Tive a infeliz oportunidade e pesar em presenciar nossos
semelhantes na luta do ego contra tantas discriminações. A droga antes de tudo
é uma doença da alma e por assim ser, precisamos penetrar no desconhecido,
improvável, nos efeitos da glândula pineal. Gostaria de ter a fórmula exata
para diminuir estatísticas nada otimistas na recuperação literal dos sofridos “zumbis”
que, na sua grande maioria, não sabem muitas vezes a quem recorrer ou lhes
falte centros com a devida qualidade e amor incondicional. Temos uma alta taxa
de recaída em nosso país, o que comprova a fragilidade no tratamento ou simplesmente o homem desde a
antiguidade sabe dos prazeres que ela causa. Todavia, vale lembrar que se trata
de uma doença crônica e que, se avaliada como tal, os resultados da terapia são
semelhantes aos de outras enfermidades persistentes, como asma, hipertensão e
diabetes. Não temos números precisos sobre o consumo de substâncias
psicoativas, o que torna míope os programas por esta ausência e dúvidas no
conhecimento dos profissionais envolvidos ou curiosos como eu. Alarmada está toda sociedade. Doente aos
milhares. Tristes ficam os que se identificam com a causa e mais ainda, seus
familiares que adentram no olho do tufão e às perspectivas de sobrevivência é uma
incógnita e quase natimorto. Obrigado.
Antonio
Cezar Almeida – Paciente voluntário nesta OSID, um belo sobrado no Santo
Antônio Além do Carmo. August,14.
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