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quinta-feira, 31 de julho de 2014

Bazar de ideias.


OS DISPOSITIVOS DE CUIDADO EM ÁLCOOL E DROGAS EM SALVADOR.
Antonio Nery Filho, mestre em Medicina pela UFBA, doutor em Sociologie et Sciences Sociales.
Não concordei, àquela época, como agora, com a exposição a que foram submetidos os usuários de drogas em recuperação, por uma questão de principio: o anonimato é um dos pilares da clínica ensinada, desde os primórdios dos anos 70, pelo Prof. Claude Olievenstein (de Marmottan , Paris),  associado à gratuidade e à liberdade pela escolha de tratamento, isto é, a busca voluntária de ajuda,  ressalvadas as situações em que a morte é iminente,  morte para si ou  grave ameaça para os circunstantes. A autonomia do paciente é,   a meu juízo, raramente negociável. 
 Em lugar de lamentar o fracasso das gerações anteriores, escolheu, claramente, os jovens, que denominou de “nosso futuro”, para depositar a responsabilidade pelas urgentes mudanças nos paradigmas sociais atuais: menor valor  para os bens materiais, transitórios, passageiros, e maior interesse e garantia pelos valores éticos e morais. Como não abraçar as propostas deste  Homem que poderia apenas dizer aquilo que os poderosos de passagem gostariam de ouvir? Como não reconhecer neste Francisco do século XXI, a firme disposição de se fazer ouvir do alto de sua simplicidade e sorriso cativantes?
 Creio, firmemente, que Francisco, o Papa, não considera os usuários de drogas, em particular as ilícitas, como os doentes leprosos do século XXI. Ouso pensar que os vê como grave sintoma de uma sociedade  do espetáculo, de Guy Debord, do transitório, da falta de memória, do ter  e do consumismo sem quartel, da mentira e do engano. Mas, creio que Francisco crê na esperança, como no Mito de Pandora. Quanto a mim, creio em Francisco enquanto esperança de transformação, como ainda creio no trabalho e na poesia.
Comentário:
Sr.Gerfson, conheço como ex dependente, ou talvez temporariamente livre das seqüelas desta droga devastadora, às carências não intencionais dos profissionais que lá trabalham (CAPS), mas do próprio sistema que encampa suas metodologias na provável recuperação de danos dos adictos do álcool e outras substâncias psicoativas. Assim sendo, posso e devo alertar que o modelo ideal nesta “recuperação” está longe dos ideais de reinserção e amenização das doenças da mente. Psicoterapias, farmacoterapia, oficinas são de grande valia se a ciência adicionasse o componente mágico, alquimista, quântico na libertação que, nossos irmãos enfrentam no seu dia a dia. Tive a infeliz oportunidade e pesar em presenciar nossos semelhantes na luta do ego contra tantas discriminações. A droga antes de tudo é uma doença da alma e por assim ser, precisamos penetrar no desconhecido, improvável, nos efeitos da glândula pineal. Gostaria de ter a fórmula exata para diminuir estatísticas nada otimistas na recuperação literal dos sofridos “zumbis” que, na sua grande maioria, não sabem muitas vezes a quem recorrer ou lhes falte centros com a devida qualidade e amor incondicional. Temos uma alta taxa de recaída em nosso país, o que comprova a fragilidade  no tratamento ou simplesmente o homem desde a antiguidade sabe dos prazeres que ela causa. Todavia, vale lembrar que se trata de uma doença crônica e que, se avaliada como tal, os resultados da terapia são semelhantes aos de outras enfermidades persistentes, como asma, hipertensão e diabetes. Não temos números precisos sobre o consumo de substâncias psicoativas, o que torna míope os programas por esta ausência e dúvidas no conhecimento dos profissionais envolvidos ou curiosos como eu.  Alarmada está toda sociedade. Doente aos milhares. Tristes ficam os que se identificam com a causa e mais ainda, seus familiares que adentram no olho do tufão e às perspectivas de sobrevivência é uma incógnita e quase natimorto. Obrigado.

Antonio Cezar Almeida – Paciente voluntário nesta OSID, um belo sobrado no Santo Antônio Além do Carmo. August,14.

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